Memorial do Rio Tietê

O Rio Esquecido

Ironicamente, o rio que formou o tronco do sistema hidrográfico paulista nos primeiros anos da colonização e que teve papel fundamental no desenvolvimento econômico da capitania, da província e, finalmente, do estado, é um rio quase ignorado pela metrópole que ajudou a formar. Não fosse ser injuriado por suas enchentes torturante e apresentar-se fortemente poluído e mal-cheirosso, talvez até andasse despercebido em seu leito de morinbundo. Não precisaria se assim, e há rios, principalmente europeus, que são um exemplo de integração na paisagem urbana.

Mas nem sempre foi assim. Pulando logo ao Século XX, no Tietê a população de São Paulo nadou e remou, e em suas margens desfrutou de lazer. Suas águas piscosas forneceram alimento e sua vegetação intensa escondeu várias espécies da fauna local. Também houve o reverso, é certo: sempre problemático, o Tietê foi durante muito tempo um obstáculo para a expansão do núcleo urbano, a cidade sempre esbarrando em suas margens e nas cheias que invadiam suas várzeas.

O Tietê, parte alegre da vida da cidade, foi esquecido. Não é nem mesmo lembrado como antigo fornecedor da matéria-prima para a remodelação da antiga vila e sua transformação em metrópole moderna, processo com o qual também começou sua degeneração: ao mesmo tempo, o rio passou a receber os dejetos de milhões de habitantes, os mesmos que bebem a água servida por sua bacia hidrográfica.