Memorial do Rio Tietê

Os Primeiros Habitantes

Desde as primeiras expedições pelo Tietê, a presença indígena foi personagem central de histórias fantásticas, que nos falavam ora dos tupiniquins, que habitavam as proximidades da nascente do rio, ora dos Kaiapós, próximos da sua foz, ora, pelo meio do caminho, dos guaranis e dos Kaingang, além de nos remeterem aos paiaguás que, mesmo morando em terras além das fronteiras do Tietê, atemorizavam até a alma dos que partiam para o sertão.

As histórias relatavam, na maioria das vezes, as lutas sangrentas que ambos os lados travavam, na qual todos saíam perdendo: nações indígenas eram exterminadas e expedições inteiras, massacradas. Descontadas as intenções e os pesos da balança, se naquela época o índio era o inimigo, o traiçoeiro, o flecheiro impecável ou a mão-de-obra a ser capturada, o que nos chega hoje é a herança assimilada - pouco a pouco, quase imperceptivelmente - da convivência com ele. Para as bandeiras e, depois, para as monções que partiam pelo Tietê, os primeiros guias foram indígenas apaziguados. Deles era a técnica de navegação, e deles se adquiriu o conhecimento de ervas medicinais que acalmavam as dores do homem branco. No nome das cidades das margens do rio - Itu, Parnaíba, Pirapora - o tupi, maior tronco lingüístico indígena do país, falado em São Paulo até meados do Século XVIII, deixou uma marca indisfarçável.

Na alimentação, no uso de redes, nas formas de pescar, na fabricação de potes, na confecção de instrumentos - em tudo o indígena foi deixando seu traço, e não só mundo material. Se seu universo místico era mais difícil de ser assimilado, nem por isso suas representações sobre a terra sem males e sobre o paraíso, a criação e o renascimento, o dilúvio e a origem do fogo, deixaram de povoar a cabeça do colonizador que descia pelo Tietê.