Memorial do Rio Tietê

O Tietê dos Cientistas Estrangeiros

Não foram poucos os que, em suas incursões científica pelo Brasil, cruzaram o Tietê, descreveram-no e produziram documentos sobre a paisagem e a vida nas cidades banhadas pelo rio. Sobretudo estrangeiros. Entre eles, o Barão de Langsdorff, cientista e cônsul geral da Rússia no Rio de Janeiro, e o naturalista, francês Auguste de Saint-Hilaire, estão certamente entre os que nos deixaram os registros mais preciosos.

Em 1825, patrocinada pelo czar Alexandre I, a expedição organizada pelo Barão de Langsdorff partiu de Porto Feliz com destino ao Amazonas. A fértil documentação iconográfica produzida pelos que nela viajavam são dos documentos mais interessantes da época. Entre eles estão as paisagens, costumes, tipos e cenas de Rugendas, pintor e desenhista alemão que mais tarde publicou seus trabalhos no livro Viagem Pitoresca Através do Brasil; e o relato De Porto feliz e Cuiabá, depois reeditado como Viagem Fluvial do Tietê ao Amazonas, de Hercule Florence, o francês que se radicou no Brasil e que se antecipou a Daguerre na Descoberta da fotografia.

Quando a Saint-Hilaire, ele chegou ao Brasil em 1816 e percorreu grande parte do território brasileiro para estudar a botância do país. Sua obra documenta as condições de vida e os costumes na primeira metade do Século XIX e, especificamente sobre o Tietê, nos descreve como este era naquele começo de século. Assim nos fala do rio em Viagem à Província de São Paulo, quando, na capital, o avistou pela primeira vez:

"...A cerca de uma légua da cidade de São Paulo há uma ponte de madeira sobre o rio Tietê, que não é muito largo nesse ponto, embora suas águas fluam com rapidez. Quase às suas margens via-se uma bela casa de campo, ensombreada, por uma Araucária, junto à qual havia uma plantação de café..."

E sobre o rio Itu:
"...não querendo deixar Itu sem ver a cachoeira à qual a cidade deve seu nome, dirigi-me até lá. Chegando ao Tietê encontra-se uma ponte estreita, muito mal conservada e sem parapeito.

Passando sob a ponte, e apertada entre as pedras, a água do rio corre fazendo barulho. Um pouco abaixo há um monte de pedras mais adiante fica a cachoeira. Depois de serpentear celeremente por entre as pedras amontoadas, o rio lança-se de repente por um estreito canal, cercado de ambos os lados por uma muralha de pedras a pique, e dali se precipita de uma altura de 25 ou 30 pés, com uma impetuosidade inconcebível e um estrondo suficiente forte para ser ouvido da cidade de Itu. Batendo, na sua queda, e pedras, a águas se divide em vários jatos, que espiram, se cruzam e se misturam formando uma confusa massa de espuma de tom branco-ferrugem e espalhando no ar miríades de gotículas que se juntam para compor uma densa cortina de névoa. Na base da cachoeiras as águas tornam a encontrar pedras e ainda continuam a espumar durante um certo trecho."