Memorial do Rio Tietê

As Monções do Ouro

Ao dedicar um livro inteiro às monções brasileiras Sergio Buarque de Holanda assinala que não foi por acaso que a técnica da navegação fluvial encontrou, em São Paulo, sua fase de maior desenvolvimento com a decadência das bandeiras. Enquanto nestas os rios eram obstáculos, e as canoas eram utilizadas apenas quando a marcha à pé se tornava impossível, as monções do Século XVIII, pelo contrário, eram expedições fluviais, onde a marcha a pé ou cavalo é que eram exceções.

O termo, na sua origem árabe, significa a época ou vento favorável à navegação. Incorporado ao vocabulário do país, passou a referir-se às expedições fluviais povoadoras e comerciais que partiam do porto de Araritaguaba - o porto das monções, hoje Porto Feliz -, navegando pelo Tietê e pela rede de afluentes dos rios Paraná e Paraguai até o rio Cuiabá.

Como no Oriente, as expedições saíam em épocas determinadas do ano - aqui, determinadas não pelos ventos, como lá, mas pelas cheias dos rios, que deixavam a navegação menos difícil e arriscada. Eventualmente, também se optava pelos meses de águas mais baixas, quando era menor a ameaça das febres malignas que atacavam principalmente em tempos de enchentes.

A descoberta das minas de ouro nas cerâmicas de Cuiabá iniciou o período de grande euforia das monções. Nessa época, o Tietê foi o caminho inicial dos aventureiros que, em busca do sonho dourado, desprezavam os perigos e sofrimentos da viagem sertão adentro.